domingo, 2 de maio de 2010

Com a saída de Ciro da corrida presidencial, em quem os seus eleitores vão votar?

      A saída do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) da disputa à Presidência da República, oficializada na semana passada pela Executiva Nacional do PSB, pode definir o resultado das eleições de outubro. Sem o deputado cearense no páreo, Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) articulam forças para conquistar os votos "ciristas".
      Segundo o cientista político e professor da Universidade Federal do Ceará, Valmir Lopes, o cenário eleitoral sem a presença de Ciro pode fazer a eleição ser definida já no 1º turno. "Por isso, a insistência de Ciro em ser candidato. Há um risco muito grande. Objetivamente, a saída dele acirra a disputa entre os dois grandes candidatos fazendo com que tenhamos um único turno nas eleições. A questão maior é essa, que não é boa para o Governo. É preciso lembrar que o Lula nunca ganhou uma eleição em um único turno", avaliou Lopes.
      Na última pesquisa Datafolha, divulgada ainda em abril, Ciro Gomes contava apenas com 9% das intenções de voto. Já Serra tinha 38%, Dilma 28% e Marina 10%. O estudo mostra que sem o candidato socialista no páreo a tendência era que o tucano atingisse 42% dos votos contra 30% da petista e 12% da senadora acreana.
      A queda de Ciro nas pesquisas não foi nenhuma novidade para os analistas políticos. Considerando a média dos principais institutos, a preferência pelo deputado caiu de 17% em setembro para 8% em abril
      A especulação sobre qual dos candidatos devem receber a fatia do bolo de votos que seriam direcionados a Ciro acirra ainda mais o período de pré-campanha. Para Lopes, apesar da baixa média do deputado nas pesquisas, as intenções de votos dos "ciristas" não devem ser ignoradas. "É um índice relevante que indica o grau de fixação na mente do eleitorado ainda do nome de Ciro, mesmo depois da sua última eleição que foi em 2002", avaliou.
     Para o cientista político, Serra deverá ser o mais beneficiado com a não candidatura do deputado. "O eleitorado de Ciro não é petista, mas pode votar na candidatura do PT. Entretanto, acho mais provável que a preferência seja distribuída de maneira desigual entre os grandes candidatos, sendo Serra mais beneficiado", disse.

      Além de Serra ser o mais popular, segundo o professor, ele pode angariar os votos de protesto dos descontentes com a interferência do PT diante da pré-candidatura do deputado.

      PT e PSDB devem procurar atrair também os 14% de votos que Ciro tinha no Nordeste, única região em que Dilma ganha de Serra - são 38% contra 28%. Mesmo assim, para o professor, a candidata de Lula, não teria êxito nas urnas. "Não acredito também que se possa ganhar o voto do eleitorado em cima de uma identidade regional Nordeste, pois as pessoas não se identificam com essa suposta identidade".
      O cientista político explica que o eleitor de Ciro tem um perfil muito flutuante, que está presente em várias eleições recentes no Brasil. Segundo Lopes os "ciristas", não têm uma ideologia definida e flertam com uma posição moralista na política. "Esse eleitorado não tem muita simpatia pelo petismo, pois percebe nele certos traços de imoralidade e corrupção na política, como se estivesse lá apenas para se dar bem".
      Valmir compara ainda os "ciristas" aos simpatizantes do ex-deputado Moroni Torgan, formados por uma aliança da burguesia moralista com uma parcela significativa do que se chamava no passado de lupem proletariado.
      No meio de uma disputa polarizada, outra questão que deve ser observada é a interferência de Marina Silva (PV) numa decisão polêmica entre o discurso da continuidade e o da mudança. A candidata tem muito mais o papel pedagógico político, pois lembra à sociedade a limitação das prioridades dos outros candidatos.
      Valmir avalia que, dependendo de como venha ser o desempenho, a senadora pode ser a certeza de um 2º turno. "Num eventual 2º turno, penso que ela tenderia apoiar o candidato Serra", finalizou.

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